Presidente afastado é acusado de mentir a CPI; ainda cabe recurso à CCJ.
Decisão será encaminhada ao plenário, que pode aprovar ou não cassação.
O Conselho de Ética aprovou, por 11 votos a 9, parecer do deputado
Marcos Rogério (DEM-RO) pela cassação do mandato do presidente afastado
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nesta quarta-feira (14). A decisão
ocorre uma semana após ser divulgado que o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de Cunha ao Supremo Tribunal Federal (STF).
No processo, o peemedebista é acusado de quebra de decoro parlamentar
por manter contas secretas no exterior e de ter mentido sobre a
existência delas em depoimento à CPI da Petrobras no ano passado.
Segundo o relatório de Marcos Rogério, trustes e offshores foram usados
pelo presidente afastado da Câmara para ocultar patrimônio mantido fora
do país e receber propina de contratos da Petrobras. O deputado diz no
parecer que Cunha constituiu os trustes no exterior para viabilizar a
"prática de crimes".
Em nota publicada após a votação, Cunha diz que "o processo tem nulidades gritantes"
e que vai recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ele
afirma ter "absoluta confirança" de que reverterá a decisão e que é
inocente da acusação de mentir à CPI.
O advogado de Cunha, Marcelo Nobre, disse que deve recorrer. "Vamos
decidir sobre recurso à CCJ. Não há provas contra meu cliente".
Com a aprovação do relatório, a defesa de Cunha tem cinco dias úteis, a
partir da publicação do resultado no "Diário Oficial da Câmara", para
recorrer à CCJ. Mas a comissão pode opinar apenas sobre aspectos formais
do relatório - não sobre o mérito.
Em seguida, o processo vai para votação no plenário da Câmara.
Qualquer punição só poderá ser aprovada em definitivo com o voto de ao
menos 257 dos 512 deputados (Cunha está com o mandato suspenso e não
pode participar de sessões na Casa).
No momento em que o presidente do colegiado, José Carlos Araújo
(PR-BA), proclamava o resultado contra o peemedebista, deputados e
servidores gritaram "Fora, Cunha!" no plenário onde ocorreu a votação.
Votação
Veja como votou cada deputado integrante do Conselho de Ética:
Veja como votou cada deputado integrante do Conselho de Ética:
A favor da cassação
Marcos Rogério (DEM-RO), relator do processo
Sandro Alex (PSD-PR)
Paulo Azi (DEM-BA)
Júlio Delgado (PSB-MG)
Nelson Marchezan (PSDB-RS)
Zé Geraldo (PT-PA)
Betinho Gomes (PSDB-PE)
Valmir Prascidelli (PT-SP)
Leo de Brito (PT-AC)
Tia Eron (PRB-BA)
Wladimir Costa (SD-PA)
Marcos Rogério (DEM-RO), relator do processo
Sandro Alex (PSD-PR)
Paulo Azi (DEM-BA)
Júlio Delgado (PSB-MG)
Nelson Marchezan (PSDB-RS)
Zé Geraldo (PT-PA)
Betinho Gomes (PSDB-PE)
Valmir Prascidelli (PT-SP)
Leo de Brito (PT-AC)
Tia Eron (PRB-BA)
Wladimir Costa (SD-PA)
Contra a cassação
Alberto Filho (PMDB-MA)
André Fufuca (PP-MA)
Mauro Lopes (PMDB-MG)
Nelson Meurer (PP-PR)
Sérgio Moraes (PTB-RS)
Washington Reis (PMDB-RJ)
João Carlos Bacelar (PR-BA)
Laerte Bessa (PR-DF)
Wellington Roberto (PR-PB)
Alberto Filho (PMDB-MA)
André Fufuca (PP-MA)
Mauro Lopes (PMDB-MG)
Nelson Meurer (PP-PR)
Sérgio Moraes (PTB-RS)
Washington Reis (PMDB-RJ)
João Carlos Bacelar (PR-BA)
Laerte Bessa (PR-DF)
Wellington Roberto (PR-PB)
Complementação de voto
Na sessão desta terça, Marcos Rogério apresentou complementação de voto para reforçar a defesa pela cassação do mandato de Cunha. Para ele, o peemedebista se utilizou de trustes e empresas “de fachada” para ocultar o recebimento de propina de contratos da Petrobras.
Na sessão desta terça, Marcos Rogério apresentou complementação de voto para reforçar a defesa pela cassação do mandato de Cunha. Para ele, o peemedebista se utilizou de trustes e empresas “de fachada” para ocultar o recebimento de propina de contratos da Petrobras.
"O deputado se utilizou de engenharia financeira para dissimular o
recebimento de propina. Creio que a única sanção aplicável é a perda de
mandato, pois a mentira foi premeditada e realizada com a finalidade de
minar a Operação Lava Jato", sustentou Marcos Rogério. "O que há aqui é
uma verdadeira laranjada".
O relator afirmou ainda que não afastou “a presunção da inocência de
Cunha por arbítrio”. “Ela foi afastada pelas robustas provas. Querem
conhecer as provas, olhem para o processo”, sugeriu.
O relator encerrou sua fala dizendo: "Estamos diante do maior escândalo
que esse colegiado já julgou. Não se trata de omissão e mentira, mas de
uma trama com a finalidade de ocultar uma série de crimes".
Tia Eron
A votação estava inicialmente prevista para a semana passada, mas Rogério pediu tempo para elaborar a apresentar complementação de voto. O adiamento para esta semana foi uma estratégia dos adversários de Cunha para ganhar tempo e tentar convencer a deputada Tia Eron (PRB-BA), detentora do voto decisivo, a apoiar o parecer pela cassação.
A votação estava inicialmente prevista para a semana passada, mas Rogério pediu tempo para elaborar a apresentar complementação de voto. O adiamento para esta semana foi uma estratégia dos adversários de Cunha para ganhar tempo e tentar convencer a deputada Tia Eron (PRB-BA), detentora do voto decisivo, a apoiar o parecer pela cassação.
Presença mais aguardada da sessão, Tia Eron chegou ao plenário do
Conselho de Ética por volta de 14h20 e passou a ser cumprimentada por
aliados e adversários de Cunha. Questionada pelo G1 se
ela já havia definido voto, afirmou: “Não acredito. Vocês já puseram
voto para mim”. Questionada se participaria da votação, foi incisiva:
“Se vocês me derem paz”.
Em seguida, ela foi abordada pelo advogado de Cunha, Marcelo Nobre, que
trocou algumas palavras com a deputada e prestou “apoio” pela “pressão”
dos últimos dias. A parlamentar apenas acenou a cabeça, enquanto
segurava a mão do advogado.
Ao votar a favor do relatório
de Marcos Rogério pela cassação de Cunha, a deputada, que fez um
discurso de mais de dois minutos aos colegas e à imprensa, foi aplaudida
pelos colegas. Adversários de Cunha chegaram a comemorar o voto (veja vídeo acima).
Em sua fala, ela ressaltou que seu partido jamais negociou cargos com o
governo em troca de votos contra a cassação de Cunha. “Em relação à
minha consciência é nela que moram os valores e reside a verdade. O meu
partido, quando foi colocado no imaginário balcão onde a chantagem seria
a moeda de troca, o PRB, lá não se trocam cargos. Nossa política é
diferente. Em função disso, eu votei pela admissibilidade do processo de
impeachment. Fui hostilizada até pelas mulheres. De todo modo, meus
pares, eu não posso aqui absolver o representado nessa tarde. Eu não
posso. Eu voto sim”, disse a deputada, ao declarar o voto.
Mudou de posição
Surpreendeu ainda mais o voto do deputado Wladimir Costa (SD-PA), que votou a favor da cassação - ainda que tenha sempre se manifestado abertamente contra a perda do mandato.
Surpreendeu ainda mais o voto do deputado Wladimir Costa (SD-PA), que votou a favor da cassação - ainda que tenha sempre se manifestado abertamente contra a perda do mandato.
O deputado do Solidariedade
inclusive discursou em defesa de Cunha na sessão desta terça e o chamou
de homem “honrado”. A declaração gerou bate-boca com deputados
petistas. Nas sessões anteriores do Conselho de Ética, Costa também
protagonizou bate-bocas com deputados petistas e usou palavras de baixo
calão.
Enquanto criticava o PT na reunião desta terça, ele foi interrompido
pelo deputado Valmir Prascidelli (PT-SP), que pediu respeito. “Ladrão,
batedor de carteira, assaltante de cofre público. Partido de gente
vagabunda”, respondeu Wladimir Costa. “Ladrão é você. Vagabundo é você”,
rebateu Valmir Prascidelli.
Após a sessão, ao ser questionado sobre os votos de Tia Eron e de
Wladimir Costa, o relator do processo, Marcos Rogério, disse que se
surpreendeu com o voto do deputado do Solidariedade.
"Com o voto de Tia Eron, eu não fiquei surpreso. [...] Com relação ao
voto do deputado Wladimir, me surpreendeu porque ele encaminhou em uma
direção mas votou de forma diferente. Mas acho que aqui prevaleceu a
força das provas, as evidências".
Novas denúncias
Na semana passada, Cunha foi alvo da terceira denúncia da Procuradoria-Geral da República, pelo suposto envolvimento em desvios nas obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. A acusação se baseia nas delações premiadas dos empresários Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia.
Já a mulher do presidente afastado, Cláudia Cruz, virou ré na Justiça Federal do Paraná por suspeita de crimes relacionados à manutenção de uma conta na Suíça. A expectativa de adversários de Cunha era que esses novos fatos pudessem pesar na decisão dos integrantes do Conselho de Ética.
O colegiado também foi notificado de uma multa de R$ 1,13 milhão do Banco Central a Cunha por ele não ter declarado à Receita Federal ter recursos no exterior.
Adversários do peemedebista chegaram a cogitar pedir que o processo em tramitação no colegiado fosse aditado com esses novos fatos. Mas, logo no início da sessão, Marcos Rogério explicou que, com o fim da instrução do processo, não seria possível acrescentar novas informações à representação.
Já aliados de Cunha passaram a adotar como estratégia, nesta semana, a proposta de defender que o peemedebista renuncie ao posto de presidente da Câmara, em troca de ter o mandato poupado. Se Cunha renunciar à presidência da Câmara, será necessária uma nova eleição para escolher um sucessor.
O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), um dos principais aliados do peemedebista, disse que conversaria com Cunha para propor a renúncia, caso o Conselho de Ética rejeitasse o parecer de Marcos Rogério.
"Após o resultado do Conselho de Ética, é possível que eu trabalhe para que ele reavalie sua posição em relação à presidência da Câmara. É possível que eu converse com ele a esse respeito", disse Marun, nesta segunda (13).
"Entendo que, se a Câmara entender que Eduardo Cunha tem o direito de permanecer com seu mandato e exercer sua ampla defesa nessa condição, entendo que ele também deva ter um pensamento mais positivo em relação à Câmara. Maranhão como presidente interino atrapalha a Câmara”, complementou.
Apesar de o resultado no Conselho de Ética ter sido negativo para Cunha, aliados do peemedebista já atuam para evitar a perda do mandato no plenário da Câmara. Eles elaboraram uma consulta encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) sobre os procedimentos de votação que visa impedir que o plenário decrete a perda do mandato do peemedebista.
No dia 6, o deputado Arthur Lira (PP-AL), próximo a Cunha, apresentou parecer que pode salvar o presidente afastado da cassação. Ele defende que, no caso de processos disciplinares, o plenário vote um projeto de resolução e não o parecer do conselho.
A diferença é que, no primeiro caso, o projeto de resolução admite emendas, que podem alterar o seu conteúdo. No segundo caso, não. Lira também opinou que as emendas não poderão ser prejudiciais ao investigado.
Assim, aliados podem tentar aprovar emendas alterando o parecer desfavorável a Cunha - inclusive a punição. A estratégia é aprovar em plenário uma pena mais branda que a cassação do mandato. O parecer de Lira ainda será analisado pela CCJ.
Na semana passada, Cunha foi alvo da terceira denúncia da Procuradoria-Geral da República, pelo suposto envolvimento em desvios nas obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. A acusação se baseia nas delações premiadas dos empresários Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia.
Já a mulher do presidente afastado, Cláudia Cruz, virou ré na Justiça Federal do Paraná por suspeita de crimes relacionados à manutenção de uma conta na Suíça. A expectativa de adversários de Cunha era que esses novos fatos pudessem pesar na decisão dos integrantes do Conselho de Ética.
O colegiado também foi notificado de uma multa de R$ 1,13 milhão do Banco Central a Cunha por ele não ter declarado à Receita Federal ter recursos no exterior.
Adversários do peemedebista chegaram a cogitar pedir que o processo em tramitação no colegiado fosse aditado com esses novos fatos. Mas, logo no início da sessão, Marcos Rogério explicou que, com o fim da instrução do processo, não seria possível acrescentar novas informações à representação.
Já aliados de Cunha passaram a adotar como estratégia, nesta semana, a proposta de defender que o peemedebista renuncie ao posto de presidente da Câmara, em troca de ter o mandato poupado. Se Cunha renunciar à presidência da Câmara, será necessária uma nova eleição para escolher um sucessor.
O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), um dos principais aliados do peemedebista, disse que conversaria com Cunha para propor a renúncia, caso o Conselho de Ética rejeitasse o parecer de Marcos Rogério.
"Após o resultado do Conselho de Ética, é possível que eu trabalhe para que ele reavalie sua posição em relação à presidência da Câmara. É possível que eu converse com ele a esse respeito", disse Marun, nesta segunda (13).
"Entendo que, se a Câmara entender que Eduardo Cunha tem o direito de permanecer com seu mandato e exercer sua ampla defesa nessa condição, entendo que ele também deva ter um pensamento mais positivo em relação à Câmara. Maranhão como presidente interino atrapalha a Câmara”, complementou.
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Manobra na CCJApesar de o resultado no Conselho de Ética ter sido negativo para Cunha, aliados do peemedebista já atuam para evitar a perda do mandato no plenário da Câmara. Eles elaboraram uma consulta encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) sobre os procedimentos de votação que visa impedir que o plenário decrete a perda do mandato do peemedebista.
No dia 6, o deputado Arthur Lira (PP-AL), próximo a Cunha, apresentou parecer que pode salvar o presidente afastado da cassação. Ele defende que, no caso de processos disciplinares, o plenário vote um projeto de resolução e não o parecer do conselho.
A diferença é que, no primeiro caso, o projeto de resolução admite emendas, que podem alterar o seu conteúdo. No segundo caso, não. Lira também opinou que as emendas não poderão ser prejudiciais ao investigado.
Assim, aliados podem tentar aprovar emendas alterando o parecer desfavorável a Cunha - inclusive a punição. A estratégia é aprovar em plenário uma pena mais branda que a cassação do mandato. O parecer de Lira ainda será analisado pela CCJ.
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