quarta-feira, 23 de julho de 2014

“VIDA DE MOTOCICLISTA” - ARQUITETURA INIMAGINÁVEL


Em mais uma manhã, sem a sorte de ver a pista de rolamento novamente, face ao enorme número de veículos nas vias que unem Belo Horizonte a seus extremos, trafegamos sob a mesma condição diária.

Entre uma e outra fechada, o olhar aguçado entrecortado pelos primeiros raios solares era facilitado pelo desfazimento dos vidros embaçados pela diferença de temperatura. Hoje, particularmente, fez muito frio pela manhã.

Já no meio da viagem, nunca uma rotina, face ao cenário metamórfico que se forma diariamente com os diversos veículos participantes da jornada, deparamos – sempre eu e minha linda filha – com uma situação deveras inusitada, pra não dizer tensa. O fato merece destaque, em vista da atitude percebida no cenário causticante que é o trânsito metropolitano.

Pasmem! Percebam o quanto é possível encontramos boas condições e cidadania em meio ao egoísmo e ao caos.

Estávamos parados na faixa de retenção em um dos cruzamentos da Avenida Cristiano Machado, mais precisamente nas imediações do bairro Cidade Nova. De repente, sinalização verde – e esse momento parece com a corrida do ouro – começa a atravessar, fora dos limites permitidos aos pedestres, um Senhor, de aproximadamente cinquenta anos, com um andador em auxílio a seus movimentos. Isso mesmo! Um andador...

Segundos para raciocinar ou presenciar mais um capítulo fúnebre do emblemático e implacável trânsito urbano de uma das capitais mais importantes do país. Apesar da velocidade, quando nos é perceptível a condição de acidente, parece que o tempo passa mais devagar.

Para os envolvidos num acidente, não! Com quem digere o sinistro tudo voa...literalmente.

Voltando a saída daquela faixa de retenção, imediatamente sinalizei para o veículo ao lado. Rezei para que ele percebesse minha indicação, o que, com a graça divina, foi plenamente acatado. O que trouxe mais conforto - e aí sim surpreendente - foi quando outros quatro motociclistas ultrapassaram outros veículos ainda sob forte desorientação ao que estava acontecendo, cercaram o referido pedestre, como se estivessem blindando o homem, fechando o retângulo em atitude de plena cidadania, onde o mais forte protege o mais fraco. Fiquei feliz por ter participado daquela empreitada, mesmo que amadora, inimaginável e intrigante. Parecíamos um grupo de motociclistas batedores da polícia, em plena escolta. Esplendoroso!

Outra coisa muito legal é analisarmos a condição de cada um. Independente do credo, do conhecimento, da vocação e, até mesmo, de conceitos morais em relação a outros assuntos, nos unimos, numa métrica quase que arquitetônica, desafiando a engenharia de tráfego, num único sentido...proteger a vida.

Vida protegida...Vida que segue

Mais um capítulo nesta... vida de motociclista.

Flavio Santiago

 
Flavio Jackson Ferreira Santiago
Capitão da Polícia Militar de Minas Gerais

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