- Em mais uma manhã, sem a sorte de ver a pista de rolamento novamente, face ao enorme número de veículos nas vias que unem Belo Horizonte a seus extremos, trafegamos sob a mesma condição diária.
- Entre uma e outra fechada, o olhar aguçado entrecortado pelos primeiros raios solares era facilitado pelo desfazimento dos vidros embaçados pela diferença de temperatura. Hoje, particularmente, fez muito frio pela manhã.
- Já no meio da viagem, nunca uma rotina, face ao cenário metamórfico que se forma diariamente com os diversos veículos participantes da jornada, deparamos – sempre eu e minha linda filha – com uma situação deveras inusitada, pra não dizer tensa. O fato merece destaque, em vista da atitude percebida no cenário causticante que é o trânsito metropolitano.
- Pasmem! Percebam o quanto é possível encontramos boas condições e cidadania em meio ao egoísmo e ao caos.
- Estávamos parados na faixa de retenção em um dos cruzamentos da Avenida Cristiano Machado, mais precisamente nas imediações do bairro Cidade Nova. De repente, sinalização verde – e esse momento parece com a corrida do ouro – começa a atravessar, fora dos limites permitidos aos pedestres, um Senhor, de aproximadamente cinquenta anos, com um andador em auxílio a seus movimentos. Isso mesmo! Um andador...
- Segundos para raciocinar ou presenciar mais um capítulo fúnebre do emblemático e implacável trânsito urbano de uma das capitais mais importantes do país. Apesar da velocidade, quando nos é perceptível a condição de acidente, parece que o tempo passa mais devagar.
- Para os envolvidos num acidente, não! Com quem digere o sinistro tudo voa...literalmente.
- Voltando a saída daquela faixa de retenção, imediatamente sinalizei para o veículo ao lado. Rezei para que ele percebesse minha indicação, o que, com a graça divina, foi plenamente acatado. O que trouxe mais conforto - e aí sim surpreendente - foi quando outros quatro motociclistas ultrapassaram outros veículos ainda sob forte desorientação ao que estava acontecendo, cercaram o referido pedestre, como se estivessem blindando o homem, fechando o retângulo em atitude de plena cidadania, onde o mais forte protege o mais fraco. Fiquei feliz por ter participado daquela empreitada, mesmo que amadora, inimaginável e intrigante. Parecíamos um grupo de motociclistas batedores da polícia, em plena escolta. Esplendoroso!
- Outra coisa muito legal é analisarmos a condição de cada um. Independente do credo, do conhecimento, da vocação e, até mesmo, de conceitos morais em relação a outros assuntos, nos unimos, numa métrica quase que arquitetônica, desafiando a engenharia de tráfego, num único sentido...proteger a vida.
- Vida protegida...Vida que segue
- Mais um capítulo nesta... vida de motociclista.
- Flavio Santiago
Flavio Jackson Ferreira Santiago
Capitão da Polícia Militar de Minas Gerais
Capitão da Polícia Militar de Minas Gerais
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