quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Especialistas afirmam que problemas no abastecimento de água podem se agravar em Minas Copasa diz que medidas de emergência afastam risco de desabastecimento na Grande BH, mas especialistas contestam. Moradores continuam desconfiados




Mateus Parreiras
Tiago de Holanda
Publicação: 19/09/2012 06:00 Atualização: 19/09/2012 06:43

 (Túlio Santos/EM/D.A Press)
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informou nessa terça-feira, por meio de nota, que as medidas emergenciais adotadas para evitar o desabastecimento de água em alguns municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, causado pela estiagem prolongada, pelo tempo seco e quente e pelo aumento do consumo, são suficientes para sanar o problema e que a situação não se repetirá. Entretanto, moradores de regiões onde o fornecimento de água tem sido interrompido com frequência e especialistas não compartilham o otimismo da empresa e afirmam que a situação pode se agravar no curto e no médio prazo.

Mesmo tendo água em casa ontem, o engenheiro elétrico aposentado Sérgio de Almeida, de 58 anos, que em abril trocou Belo Horizonte pelo conforto de um sobrado no condomínio de luxo Quintas da Jangada, em Ibirité, uma das cidades onde a falta de água foi constante nos últimos dias, diz que está enfrentando uma grande dor de cabeça com o desabastecimento. "A gente achou que ia morar no céu, mas desde abril, quando nos mudamos, a situação piorou. Antes, faltava água na sexta-feira à noite, mas o fornecimento era normalizado na tarde de sábado. Depois, o problema se tornou diário", desabafa.
Para se precaver, ele trocou a antiga caixa d'água, com capacidade para 1 mil litros, por uma maior, que comporta 2,5 mil litros. Por isso, a família não fica sem tomar banho ou fazer outras atividades básicas, como lavar roupas e pratos, mas há outras dificuldades. “Estou levantando cedo para aguar a grama do quintal, que estava morrendo”, conta Sérgio. Nos fundos do terreno, onde está sendo construída uma área de lazer com churrasqueira e piscina, os pedreiros precisam acumular o líquido em tanques, para não correrem o risco de ter que interromper o trabalho no dia seguinte. “A gente fica nessa guerra com a Copasa. Ligo para lá todo dia, mas nada muda”, constata o aposentado.

Assoreamento e consumo

A preocupação dos especialistas com o risco de desabastecimento na RMBH é baseada em levantamentos de pesquisadores. Estudos do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios (LGAR) da UFMG e do Projeto Manuelzão, de revitalização da Bacia do Rio das Velhas, apontam que o assoreamento dos mananciais, o desabastecimento das nascentes e o crescimento agudo do consumo de água podem comprometer o fornecimento no curto e no médio prazo na região.

A Lagoa Várzea das Flores, uma das principais fontes de água para BH (11%), Contagem, Betim e Ibirité é uma das mais ameaçadas. Ocupações irregulares, lançamento de lixo e detritos no manancial já soterraram três grandes áreas do espelho d’água desde 2009, cobrindo uma extensão equivalente a oito campos de futebol. Pelo menos 10 outros pontos mapeados pelo LGAR seguem sendo degradados. Pelas taxas de deposição de detritos sólidos nas águas da Várzea das Flores, cientistas projetam que, em menos de três anos duas grandes ilhas artificiais devem se formar no meio do lago, comprometendo ainda mais a capacidade de armazenar água para a população.

“O reservatório de Várzea das Flores está sendo assoreado a uma velocidade muito acentuada e compromete a qualidade da água. A Copasa nos vende uma água que na realidade, em breve, não poderá mais oferecer caso persistam essas condições”, projeta o coordenador do LGAR, professor Ricardo Motta Pinto Coelho. E sua previsão se estende para a capital mineira. “Os próprios reservatórios de abastecimento de água para Belo Horizonte, os reservatórios de Várzea das Flores (Sistema Paraopeba) e de Serra Azul (Sistema Rio das Velhas) exibem graves problemas ambientais e estão ficando comprometidos”, avalia.

Mais água

De acordo com a Copasa, mais 50 milhões de litros de água estão sendo adicionados diariamente ao sistema de abastecimento da RMBH desde a noite de anteontem e que o problema em Ibirité, Lagoa Santa, Moeda, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Sabará, São José da Lapa, Vespasiano e em Olhos D'Água, na Região do Barreiro, em BH, só ocorreu porque foi preciso aumentar a produção das bombas em 900 litros por segundo e isso demorou a chegar às residências.

A empresa informou que o consumo da Grande BH é de cerca de 14 mil litros por segundo, mas no auge da crise ultrapassou 16 mil litros por segundo, sem contar a cidade de Moeda e que essa capacidade pode ser aumentada em caso de necessidade. “Podemos aumentar em 2 mil litros por segundo nosso fornecimento com a capacidade instalada atual e de receber mais mil litros por segundo do Rio Manso, se for necessário”, garante Eugênio Álvares de Lima Silva, chefe do Departamento Metropolitano da Copasa.

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