Fonte: G1.
Há pelo menos
dois casos de morte sob investigação policial, em Mato Grosso e na Paraíba, além de uma tentativa de suicídio, no Rio de Janeiro, que supostamente podem ter relação com o jogo.
O que atualmente está sendo conhecido como "jogo" na verdade é uma
sequência de troca de mensagens em redes sociais e tarefas a serem
cumpridas. Nas conversas, um grupo de organizadores, chamados
"curadores", propõe 50 desafios macabros aos adolescentes, como fazer
fotos assistindo a filmes de terror, automutilar-se desenhando baleias
com instrumentos afiados em partes do corpo e ficar doente.
Segundo o presidente da Safernet, Thiago Tavares, o jogo foi um “fake
news” (notícia falsa) divulgada por um veículo de comunicação estatal da Rússia que se espalhou a partir de 2015.
“Era um ‘fake news’, mas existe um efeito que, sendo verdadeira ou não,
a notícia gera um contágio, principalmente entre os jovens. O jogo não
existia, mas com a grande repercussão da notícia, pode ter passado a
existir.”
Era um ‘fake news’, mas existe um efeito que sendo verdadeira ou não, a notícia gera um contágio, principalmente entre os jovens. - Thiago Tavares, Safernet
Tavares lembra que o "efeito contágio" tem suas consequências reais, e
não virtuais. “O efeito contágio é um fenômeno muito anterior à
internet, e particularmente comum entre adolescentes e jovens.”
O G1 ouviu especialistas que dão dicas de como lidar com o tema:
1. Fique atento à mudança de comportamento
Uma mudança brusca de comportamento pode ser sinal de que a criança ou o
adolescente esteja sofrendo com algo que não saiba lidar, segundo
Elizabeth dos Reis Sanada, doutora em psicologia escolar e docente no
Instituto Singularidades.
“Isolamento, mudança no apetite, o fato de o adolescente passar muito
tempo fechado no quarto ou usar roupas para se esquivar de mostrar o
corpo são pistas de que sofre algo que não consegue falar”, diz.
2. Compartilhe projetos de vida
Para entender se a criança ou adolescente está com problemas é
fundamental que os pais se interessem por sua rotina. Elizabeth reforça
que este deve ser um desejo genuíno, e não momentâneo por conta da
repercussão do “Jogo da Baleia”.
“Os pais devem conhecer a rotina dos filhos, entender o que fazem,
conhecer os amigos”, afirma a Elizabeth. Ela lembra que muitos
adolescentes “falam” abertamente sobre a falta de motivação de viver nas
redes sociais. Aos pais cabe incentivar que os filhos tenham projetos
para o futuro, tracem metas como uma viagem, por exemplo, e até algo
mais simples, como definir a programação do fim de semana.
3. Abra espaço para diálogo
Filhos devem se sentir acolhidos no âmbito familiar, por isso,
Elizabeth reforça que é necessário que os pais revertam suas
expectativas em relação a eles. “É preciso que o adolescente se sinta à
vontade para falar de suas frustações e se sinta apoiado. Se ele tiver
um espaço para dividir suas angústias e for escutado, tem um fator de
proteção”, afirma Elizabeth.
Angela Bley, psicóloga coordenadora do instituto de psicologia do
Hospital Pequeno Príncipe, diz que o adolescente com autoestima baixa,
sem vínculo familiar fortalecido é mais vulnerável a cair neste tipo de
armadilha. “O que tem diálogo em casa, não é criticado o tempo todo, tem
autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele fale sobre o jogo, o
que sente, é um momento de diálogo entre a família.”
Angela reforça que muitas vezes o adolescente não tem capacidade de
discernir sobre todo o conteúdo ao qual é exposto. “Por isso é
importante o diálogo franco. Não pode fingir que esse tipo de coisa não
existe porque ele sabe que existe.”
4. Adolescentes devem buscar aliados
O adolescente precisa buscar as pessoas em que confia para compartilhar
seus anseios, seja no ambiente escolar ou familiar, segundo as
especialistas. “Que ele não ceda às ameaças de quem já está em contato
com o jogo e entenda que quem está a frente deles são manipuladores”,
diz Elizabeth.
5. Escolas podem criar iniciativas pela vida
Assim como a família, as escolas podem ajudar a identificar situações
de risco entre os alunos. “Não é qualquer criança que vai responder ao
chamado de um jogo como esse, são os que têm situações de
vulnerabilidade. A escola ajuda a construir laços e tem papel
fundamental de perceber como os alunos se desenvolvem”, afirma
Elizabeth.
Alguns colégios, já cientes da viralização do jogo, começaram a pensar
em alternativas para aumentar a conscientização sobre a importância de
cuidade da vida. No Colégio Fecap, que fica na Região Central de São
Paulo, essa ideia virou projeto escolar: a turma de alunos do ensino
médio técnico de programação de jogos digitais começou a criar uma
espécie de “contra-jogo” da Baleia Azul.
“O jogo ainda está sendo produzido pelos alunos. Eles estão se reunindo
e debatendo a questão. Serão 15 desafios de como desfrutar melhor da
vida e celebrá-la”, conta o professor Marcelo Krokoscz, diretor do
colégio.
Durante o curso, os estudantes aprender a aplicar linguagens de
programação para criar jogos para computadores, videogame, internet e
celulares, trabalhando desde a formação de personagens, roteiros e
cenários até a programação do jogo em si. Segundo Krokoscz, a ideia é
que o jogo, ainda sem prazo de lançamento, esteja disponível on-line
para o público em geral.
Ele afirma que o objetivo é a ajudar os jovens a verem o lado bom da
vida. “Impacta mais fortemente nossos alunos a partir do momento que
eles mesmos criam um jogo a favor da vida.”
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