quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Cuidado, o Aedes aegypti também consegue se reproduzir em água suja

Pesquisadores encontraram larvas em água poluída, um indício de que o mosquito da dengue e do zika é capaz de se adaptar

ANA HELENA RODRIGUES (COM EDIÇÃO DE BRUNO CALIXTO)
03/02/2016 - 18h03 - Atualizado 03/02/2016 18h03
Agente sanitário em Recife, Pernambuco, trabalha na prevenção contra o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e do zika vírus (Foto: Felipe Dana/AP)
O Aedes aegypti, conhecido dos brasileiros por ser o mosquito que transmite o vírus da dengue e do zika, é capaz de se adaptar às condições urbanas, onde é endêmico, e se reproduzir em água com altos níveis de poluição, como o esgoto bruto, diz um estudo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
A pesquisa, liderada pelo biólogo Eduardo Beserra, analisou o desenvolvimento do mosquito em água com diferentes graus de poluição. Ela mostra que não é apenas o grau de pureza da água que determina o desenvolvimento das larvas. “Tinha-se a crença de que os mosquitos só se reproduziam em água limpa, mas já foram encontradas larvas em águas de esgoto. Eu mesmo já encontrei”, diz Beserra.
Ao selecionar o local para depositar os ovos, a fêmea avalia fatores que influenciam no crescimento das larvas, como luminosidade, temperatura e presença de matéria orgânica. Como as larvas do Aedes são sensíveis à luz, elas se desenvolvem bem em água que contenha substâncias dissolvidas que causem turbidez, como os efluentes de esgoto. A presença de matéria orgânica como proteínas, carboidratos e lipídios, geralmente presentes no esgoto, também contribui para o desenvolvimento dos mosquitos. O estudo mostrou que quando mantidas em água limpa sem nutrientes, todas as larvas morreram.
Ainda assim, o esgoto não é o ambiente mais favorável para a reprodução do mosquito. Para sobreviver, a larva precisa respirar o oxigênio do ar e não aquele dissolvido na água. “No nosso experimento, o acúmulo de matéria orgânica formava uma película que dificultava a respiração da larva”, explica Beserra. Impedidas de entrar em contato com o ar, algumas larvas acabam morrendo.
A descoberta de que as fêmeas do Aedes não colocam seus ovos apenas em água limpa mostra que o mosquito tem grande capacidade de adaptação a diferentes situações ambientais, inclusive àquelas consideradas desfavoráveis, como águas poluídas. Essa informação é importante para orientar ações de controle de infestação, pois mostra a necessidade de inspeção de todos os tipos de água durante a busca por criadouros de larvas, principalmente em áreas onde os esgotos correm a céu aberto e podem causar o acúmulo de água próximo aos domicílios.
Apesar de não ser a principal fonte de reprodução do mosquito, é preciso lembrar que as águas de esgoto não são coletadas adequadamente em cerca de metade dos domicílios brasileiros. Segundo a Confederação Nacional da Indústria, a universalização dos serviços de saneamento básico no Brasil só será alcançada em 2050, se seguir o ritmo de obras atual. Isso significa muitos criadouros espalhados por muito tempo pelo Brasil, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que já apresentam os maiores focos de infestação e também os menores índices de saneamento.

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