Pesquisadores encontraram larvas em água poluída, um indício de que o mosquito da dengue e do zika é capaz de se adaptar
ANA HELENA RODRIGUES (COM EDIÇÃO DE BRUNO CALIXTO)
03/02/2016 - 18h03 - Atualizado 03/02/2016 18h03
O Aedes aegypti, conhecido dos brasileiros por ser o mosquito que transmite o vírus da dengue e do zika,
é capaz de se adaptar às condições urbanas, onde é endêmico, e se
reproduzir em água com altos níveis de poluição, como o esgoto bruto,
diz um estudo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
A pesquisa, liderada pelo biólogo Eduardo Beserra,
analisou o desenvolvimento do mosquito em água com diferentes graus de
poluição. Ela mostra que não é apenas o grau de pureza da água que
determina o desenvolvimento das larvas. “Tinha-se a crença de que os
mosquitos só se reproduziam em água limpa, mas já foram encontradas
larvas em águas de esgoto. Eu mesmo já encontrei”, diz Beserra.
Ao selecionar o local para depositar os ovos, a fêmea avalia fatores
que influenciam no crescimento das larvas, como luminosidade,
temperatura e presença de matéria orgânica. Como as larvas do Aedes são
sensíveis à luz, elas se desenvolvem bem em água que contenha
substâncias dissolvidas que causem turbidez, como os efluentes de
esgoto. A presença de matéria orgânica como proteínas, carboidratos e
lipídios, geralmente presentes no esgoto, também contribui para o
desenvolvimento dos mosquitos. O estudo mostrou que quando mantidas em
água limpa sem nutrientes, todas as larvas morreram.
Ainda assim, o esgoto não é o ambiente mais favorável
para a reprodução do mosquito. Para sobreviver, a larva precisa respirar
o oxigênio do ar e não aquele dissolvido na água. “No nosso
experimento, o acúmulo de matéria orgânica formava uma película que
dificultava a respiração da larva”, explica Beserra. Impedidas de entrar
em contato com o ar, algumas larvas acabam morrendo.
A descoberta de que as fêmeas do Aedes não colocam seus ovos
apenas em água limpa mostra que o mosquito tem grande capacidade de
adaptação a diferentes situações ambientais, inclusive àquelas
consideradas desfavoráveis, como águas poluídas. Essa informação é
importante para orientar ações de controle de infestação, pois mostra a necessidade de inspeção de todos os tipos de água
durante a busca por criadouros de larvas, principalmente em áreas onde
os esgotos correm a céu aberto e podem causar o acúmulo de água próximo
aos domicílios.
Apesar de não ser a principal fonte de reprodução do mosquito, é
preciso lembrar que as águas de esgoto não são coletadas adequadamente
em cerca de metade dos domicílios brasileiros. Segundo a Confederação Nacional da Indústria, a universalização dos serviços de saneamento básico no Brasil só será alcançada em 2050,
se seguir o ritmo de obras atual. Isso significa muitos criadouros
espalhados por muito tempo pelo Brasil, principalmente nas regiões Norte
e Nordeste, que já apresentam os maiores focos de infestação e também
os menores índices de saneamento.
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