Os
Estados Unidos lançaram 59 mísseis Tomahawk contra uma base aérea na
Síria na noite desta quinta-feira (6), de onde, segundo o presidente
Donald Trump, partiu um ataque químico que matou mais de 80 pessoas esta semana. O balanço de mortos ainda está indefinido, mas as agências internacionais apontam entre quatro e nove mortos.
O ataque é a primeira ação direta dos EUA contra o presidente sírio,
Bashar Al-Assad. Trata-se de uma mudança significativa na ação americana
na região, pois até então os EUA apenas vinham atacando o Estado
Islâmico.
Os mísseis atingiram a base de Al Shayrat, perto de Homs, por volta das
21h40 (hora de Brasília), 4h40 na hora local da Síria. O porta-voz do
Pentágono, Jeff Davis, disse que os mísseis foram lançados dos
destróieres USS Porter e USS Ross contra “aeronaves, abrigos de aviões,
áreas de armazenamento de combustível, logística e munição, sistema de
defesa aérea e radares”.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), de oposição a Assad,
informou que a base síria bombardeada pelos Estados Unidos foi “quase”
totalmente destruída.
A agência estatal síria afirma que nove civis, entre eles crianças,
morreram. O Exército sírio diz que 6 pessoas morreram, mas não indica se
as vítimas são civis ou militares. Já o Observatório Sírio afirma que
quatro soldados morreram no ataque.
Donald Trump, que participou na quinta de um jantar com o presidente chinês Xi Jinping na
Flórida, afirmou que Assad usou um agente que tem impacto no sistema
nervoso para matar muitas pessoas. "Esta noite eu dei ordem para um
ataque militar na base militar na Síria de onde o ataque químico foi
lançado".
O Conselheiro nacional de segurança H. R. McMaster disse que Trump
recebeu três opções de como reagir contra o ataque sírio e disse aos
conselheiros para focar em duas delas. Nesta quinta ele decidiu qual
seria a ação.
Trump fez ainda um apelo a outros países após o ataque. "Esta noite
chamo todas as nações civilizadas para buscar um fim à matança e ao
banho de sangue na Síria". Segundo o presidente, "é de vital interesse
da segurança nacional dos Estados Unidos prevenir e deter o uso de armas
químicas mortais".
O presidente americano disse também que não há dúvidas de que o governo
sírio usou armas químicas, "violando as suas obrigações em relação à
convenção de armas químicas e ignorando o Conselho de Segurança da ONU" e
que anos de tentativas prévias de modificar o comportamento de Assad
falharam.
Menos de 3 horas após o lançamento dos Tomahawk, o Pentágono divulgou vídeo dos projéteis subindo ao céu:
A emissora de TV estatal síria confirmou que uma base militar síria foi
alvo de uma "agressão americana" nesta sexta (horário local) e que o
ataque "levou a perdas", sem especificar quais seriam.
O governador de Homs, Talal Barazi, diz que o ataque dos EUA serve aos
objetivos de “grupos terroristas armados e do Estado Islâmico” e que
"houve mortes", sem precisar quantas. Ele afirmou à Reuters que a base
atingida é usada pelas forças sírias no combate ao Estado Islâmico.
Barazi disse ainda acreditar que "não há muitas vítimas fatais" no
ataque, mas que um grande dano material foi causado.
O Pentágono informou que as forças russas que atuam na Síria foram
comunicadas sobre o ataque com antecedência e que setores da base onde
havia russos foram evitados e não foram atingidos.
O presidente russo Vladimir Putin afirmou nesta sexta-feira (7) que o ataque foi uma "agressão a um Estado soberano" e condenou a ação que, segundo ele, é baseada em "pretextos inventados", informaram agências da Rússia.
O chefe do Comitê de Defesa do Parlamento russo disse que a Rússia irá
convocar uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU após o
ataque aéreo dos EUA à Síria e que a ação pode enfraquecer o combate ao
terrorismo no país, segundo a Reuters, que cita a agência russa RIA.
Primeira intervenção EUA
A primeira ação direta dos EUA contra o regime sírio é uma resposta militar ao ataque químico ocorrido na Síria esta semana
e que matou mais de 80 pessoas. A Turquia, após realizar autópsia em
vítima, afirmou que há indícios de que foi usado gás sarin. O regime de
Bashar Al-Assad, por sua vez, nega que tenha usado armas químicas.
A ação desta quinta sob ordem de Trump veio cerca de 72 horas após a
ação com armas químicas, sem consulta ao Congresso e demonstra uma
tomada de decisão mais rápida que a do antecessor Barack Obama, que
chegou a cogitar ações contra Assad, mas não as botou em prática. Também
é um revés em relação ao que Trump vinha pregando em seus discursos, de
que os EUA deveriam se concentrar na destruição do Estado Islâmico, e
não na deposição de Assad.
No tuíte abaixo, de 2013, Trump manda recado ao então presidente Obama
afirmando que não há vantagem em atacar o país. "Não há lado positivo,
apenas um tremendo lado negativo".
—
Veja a íntegra do discurso de Trump sobre o ataque à base síria:
"Na
terça-feira, o ditador sírio Bashar al-Assad lançou um terrível ataque
de armas químicas contra civis inocentes. Usando um agente nervoso
mortal, Assad sufocou a vida de homens, mulheres e crianças
desamparadas. Foi uma morte lenta e brutal para tantos. Mesmo lindos
bebês foram cruelmente assassinados neste ataque tão bárbaro.
Nenhum
filho de Deus deve jamais sofrer tal horror. Hoje à noite, eu ordenei
um ataque militar direcionado a uma base aérea na Síria, de onde o
ataque químico foi lançado. É de vital interesse da segurança nacional
dos Estados Unidos prevenir e dissuadir a propagação e o uso de armas
químicas mortais. É indiscutível que a Síria usou armas químicas
proibidas, violou suas obrigações sob a convenção de armas químicas e
ignorou a insistência do Conselho de Segurança da ONU.
Anos
de tentativas anteriores de mudar o comportamento de Assad falharam, e
falharam muito dramaticamente. Como resultado, a crise de refugiados
continua a se aprofundar e a região continua a se desestabilizar,
ameaçando os Estados Unidos e seus aliados. Hoje à noite, pedi a todas
as nações civilizadas que se unissem a nós, buscando acabar com o
massacre e o derramamento de sangue na Síria, e também para acabar com o
terrorismo de todos os tipos e de todos os modos.
Pedimos
a sabedoria de Deus ao enfrentar o desafio de nosso mundo tão
perturbado. Rezamos pela vida dos feridos e pelas almas daqueles que
morreram e esperamos que, enquanto a América defender a Justiça, a paz e
a harmonia prevalecerão. Boa noite e Deus abençoe a América e o mundo
inteiro."
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